sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Recordações do Seminário da Encarnação

Este Blog tem o simples sentido dos antigos seminaristas puderem deixar aqui o seu testemunho e puderem rever os seus colegas de adolescentes.
divirtam-se em Agosto
Atenciosamente

2 comentários:

  1. Caros companheiros mais um espaço criado no mundo para nos podermos reunir a qualquer hora e a qualquer momento e em qualquer local.
    Que Deus Vos abençoe.

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  2. Texto de Nuno Mota
    A edificação do Seminário da Encarnação remonta ao período da Monarquia e, mais concretamente, a Julho de 1905, data em que o Estado cedeu provisoriamente à Diocese do Funchal o edifício do extinto Convento da Encarnação para aí ser instalado o novo Seminário Diocesano. A construção do Seminário da Encarnação ficou, desde logo, associada à memória do então Bispo do Funchal, D. Manuel Agostinho Barreto, prelado aclamado e figura eminente no contexto institucional da Igreja católica do seu tempo. Ora, D. Manuel Barreto elegeu, precisamente, como desígnio maior da sua administração episcopal a edificação do Seminário da Encarnação, sendo que nela terá chegado, inclusivamente, a empregar toda a sua fortuna pessoal.

    O projecto de D. Manuel Barreto esbarraria, porém, na própria História. De facto, chegada a República, o Seminário da Encarnação seria extinto, em virtude, de resto, de uma das instâncias de produção legislativa fundamentais de todo o período republicano: a conhecida lei de separação do Estado das Igrejas, de 20-04-1911. A Junta Geral interviria a partir daqui como agente fundamental nos destinos do edifício da Encarnação, deliberando, logo em Fevereiro de 1913, e por iniciativa de Francisco Correia de Herédia, o Visconde da Ribeira Brava (na altura um dos vogais da Comissão Administrativa da Junta Geral), que no mesmo se instalasse uma Escola de Utilidades e Belas Artes; seria a mesma destinada, nos termos da presidência da referida Comissão, a “promover o desenvolvimento intelectual do Distrito”. E com efeito, obtida do Estado a cedência do edifício para tal fim, onde antes se assistira à iniciação religiosa de jovens seminaristas, passariam agora a ecoar-se ensinamentos nas áreas das artes, da música, das línguas e dos lavores.
    Curiosamente, seria num contexto político e legal de revisão e desradicalização da orientação anticlerical do regime que a Junta Geral almejaria a cedência definitiva do edifício do antigo Seminário da Encarnação (que até então havia sido cedido apenas a título de arrendamento), tornando-o no centro nevrálgico de toda a sua acção administrativa e no espaço onde confluiriam a maioria dos seus serviços e áreas orgânico-funcionais. Por convenção, e até ao início da década de trinta, passou o edifício a designar-se de “Palácio da Encarnação”.
    O percurso aparentemente livre de sobressalto do agora Palácio da Encarnação culminaria em 1927, já em plena vigência da ditadura militar que levaria à institucionalização do Estado Novo. Assim, num contexto político de reequilíbrio da articulação institucional entre Estado e Igreja (que, nos anos da ditadura militar e, sobretudo, nos dois primeiros decénios do Estado Novo, tornou-se francamente favorável a esta), a administração central, através do Ministério da Justiça e dos Cultos, passou a confrontar a Junta Geral com a firme exigência da devolução do usufruto do edifício da Encarnação à Diocese do Funchal, para efeitos de reinstalação do Seminário, consagrando tal exigência por via do Dec.-lei 13.514, de 25-04-1927.
    O edifício do Seminário da Encarnação afigura-se, assim, como palco periférico e distante, ou como reflexo, de um conjunto de tensões transversais e verdadeiramente nacionais que na Madeira tinham uma concretização simultaneamente derivativa e singular, ditada, evidentemente, por toda uma especificidade local de ordem política, cultural e social. É precisamente essa especificidade local, aqui apenas entrevista no trajecto de um edifício ao longo de três decénios, que, complementarmente, urge ser trilhada para este período histórico tão profícuo quanto empolgante.*

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